Os latino-americanos costumam viver de passado,geração após geração ainda veneram personalidades históricas passíveis de questionamentos,um dos grandes exemplos,é a figura de Fidel Castro,até hoje proprietário de Cuba.Mentes e corações dos cubanos são alimentados desde 1959 pela Revolução,no entanto,precisam conviver com o roncar de seus estômagos e com o silêncio gritante das incertezas.
O maior inimigo dos irmãos Castro,não são os
EUA,é o próprio clima de anseios pluralistas de seu povo,a fadiga ideológica
cada vez mais está sendo evidente,tudo isso começa com o martírio de Orlando
Zapata na prisão,este episódio impulsionou a organização das Damas de Branco e
por fim surge um fato novo,o fenômeno Yoani Sánchez.
Yoani
Sánchez,filóloga e jornalista cubana,tem no seu blog,o instrumento de liberdade
para denunciar a realidade cubana por meio da descrição do cotidiano de tantos
cubanos anônimos que muitas vezes são atropelados pela onipotência castrista em
todos os aspectos da vida.Yoani como filóloga,conhece profundamente o poder das
palavras,suas raízes lexicográficas,semânticas,históricas e literárias,enfim,sabe
como grandes discursos foram elaborados,para assim manter uma determinada clã
em evidência.Portanto,dentro de sua própria percepção, Yoani vê o Grito,como um
dos elementos mais importante para ataque e defesa da Ditadura,ao contrário do
debate,o grito tenta desqualificar os argumentos da realidade,por exemplo,o
BLOG,mostra ao mundo,um país como CUBA, uma dicotomia clara:Miséria vs
Repressão,tudo isso está numa simples crônica.Muitas vezes,nós,que de fato
estamos de fora da ilha, determinamos a divisão ideológica da população cubana
e rotulamos de cubanos castristas os habitantes da ilha, e os exilados de pró-EUA.Leia
o que a blogueira tem a dizer:
Faz uns anos, quando
saí pela primeira vez de Cuba, eu estava num trem que saía de Berlim para o
norte. Uma Berlim já reunificada, porém que ainda conservava fragmentos dessa
feia cicatriz que foi aquele muro que dividiu uma nação. No vagão daquele trem e
enquanto me lembrava do meu pai e meu avô ambos ferroviários, os quais teriam
dado qualquer coisa para viajar nessa maravilha de vagões e locomotiva,
entabulei uma conversação com um jovem que ia sentado frente a mim. Depois da
primeira troca de cumprimentos, de maltratar o idioma alemão com um pequeno
“Guten Tag” e esclarecer que “Ich spreche ein bisschen Deutsch”, o homem
imediatamente me perguntou de onde eu vinha. De modo que lhe respondi com um
“Ich komme aus Kuba”. Como sempre ocorre depois da frase de que alguém vem da
maior das Antilhas, o interlocutor tratou de demonstrar o muito que sabia sobre
nosso país. Normalmente durante essa viagem me encontrava com gente que dizia
“ha… Cuba, sim, Varadeiro, rum e música salsa”. Também até encontrei um par de
casos em que a única referência que pareciam ter sobre nossa nação era o disco
“Buena Vista Social Club”, que exatamente nesses anos estava arrasando em
popularidade nas listas de músicas mais escutadas. Porém aquele jovem num trem
em Berlim me surpreendeu. Diferentemente de outros não me respondeu com um
estereótipo turístico ou melódico, foi mais longe. Sua pergunta foi: “És de
Cuba? Da Cuba de Fidel ou da Cuba de Miami?
Meu rosto ficou
vermelho, esqueci-me completamente do pouco que sabia da língua alemã e lhe
respondi no meu melhor espanhol de Centro Havana: “Garoto, eu sou cubana de
José Martí”. Aí terminou nossa breve conversação. Não obstante, no resto da
viagem e pelo resto da minha vida, tive sempre presente aquele bate papo.
Perguntei-me muitas vezes o que teria levado aquele berlinense e tantas outras
pessoas no mundo a verem os cubanos de dentro e de fora da Ilha como dois
mundos separados, dois mundos irreconciliáveis. A resposta a essa pergunta
percorre também parte do trabalho no meu blog Geração Y. Como foi que dividiram
nossa nação? Como foi que um governo, um partido, um homem no poder se
atribuíram o direito de decidir quem devia ter nossa nacionalidade e quem não?
A resposta a essas perguntas vocês sabem muito melhor do que eu. Vocês que
viveram a dor do exílio, que partiram na maioria das vezes só com o que tinham
em cima. Vocês que deram adeus a familiares, muitos dos quais nunca mais
voltaram a ver. Vocês que tratam de preservar Cuba, a única, a indivisível, a
completa em vossas mentes e vossos corações.
Porém continuo me
perguntando: O que aconteceu? Como foi que o adjetivo pátrio de cubano passou a
ser algo só outorgado por considerações ideológicas? Creiam-me, quando alguém
nasceu e cresceu com só uma versão da história, uma versão mutilada e
conveniente da história, não pode responder essa pergunta. Por sorte sempre é
possível despertar da doutrinação. Basta que a cada dia uma pergunta, como
ácido corrosivo, entre na cabeça. Basta que não nos conformemos com o que nos
disseram. A doutrinação é incompatível com a dúvida, a lavagem cerebral termina
justo quando esse mesmo cérebro começa questionar as frases que lhe foram
ditas. O processo de despertar é lento, inicia como um estranhamento, como se
de repente se visse as costuras da realidade. Assim foi como tudo se iniciou no
meu caso. Fui uma pioneirinha normal, como todos vocês sabem. Repeti cada dia
nas manhãs da escola primária aquela palavra de ordem: “Pioneiros pelo
comunismo, seremos como o Che”. Corri uma infinidade de vezes com a máscara
anti-gás debaixo do braço até um refúgio, enquanto meus professores me
garantiam que logo seríamos atacados de algum lugar. Acreditei. Um menino
sempre crê no que os adultos dizem. Porém havia muitas coisas que não
encaixavam. Todo processo de busca da verdade tem seu detonante. No determinado
momento em que uma peça não se encaixa e em que alguma coisa não tem lógica. E
essa ausência de lógica estava fora da escola, estava no meu bairro e em minha
casa. Eu não entendia bem o porquê daqueles que haviam ido por Mariel eram
“inimigos da pátria”, porque minhas amigas ficavam tão felizes quando algum
daqueles parentes exilados lhes enviava alguma comida ou roupa. Por que esses
vizinhos que haviam se despedido com um ato de repúdio no solar de Cayo Hueso
onde eu havia nascido, eram os que mantinham a mãe anciã que havia ficado para
trás, que presenteava com parte daqueles pacotes os mesmos que haviam jogado
ovos e insultos aos seus filhos? Eu não entendia. E dessa incompreensão,
dolorosa como todo parto, nasceu a pessoa que sou agora.
O Movimento das ruas do Brasil,deveriam
dedicar-se também ao ato de solidariedade a blogueira cubana Yoani
Sánchez,repudiando todas as formas de repressão incentivando eleições
democráticas em Cuba e o fim do bloqueio de Cuba.Ela mesmo manifestou apoio as
manifestações:
A todos esos ciudadanos en #Brasil que estan dando la pelea pacifica y civica contra la
corrupcion y el autoritarismo: mi APOYO!!!
A esquerda latino americana ainda vive do passado,precisamos de uma nova
oxigenação política.Ainda existem jovens que respiram o século XIX,alguns em
nome Socialismo,tentaram expulsar a Yoani,outros em nome do anarquismo destroem
o patrimônio público.Há aqueles que acham que descobriram a roda ao propor a
Midiativismo,isso sempre existiu.
Cuba precisa de uma oxigenação
política,cultural e social pra valer,a Yoani Sánchez é uma das possibilidades
de real mudança,quem sabe teremos nos próximos anos a primeira presidente
mulher de Cuba.
Concluímos então que o Brasil como uma não
democrática,precisa ser solidária com os cubanos,a mídia brasileira junto com
as vozes das ruas precisa transformar isso numa agenda,isso de uma certa
maneira inibe tentações autoritárias do Governo Brasileiro e de seus partidos
em levar o Brasil para um clima de incertezas.
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